O ABISMO É O MAR
O Abismo é o Mar” surge do desejo de aprofundar uma investigação poética e corporal que articula práticas como a acrobacia de solo, o Tai Chi e a dança contemporânea, tendo como horizonte conceitual a obra Poética da Relação, do filósofo martinicano Édouard Glissant. A pesquisa propõe uma dança que se constroi nas frestas do encontro, da escuta e da interdependência entre corpos, espaços e forças, abraçando o que é instável e transversal.

A metáfora do mar aparece aqui como imagem de um corpo em permanente movimento, afetado por correntes, ondas, encontros e desencontros.
O mar como abismo, como espaço de travessias, de perdas, de reinvenções, de desconhecimento e de criação.
Como transitar entre força e leveza? Como lidar com o desequilíbrio como matéria coreográfica? Como gerar movimento a partir da escuta dos vetores de força, das quedas, das torções, dos impulsos e da gravidade? Como construir uma dança que não busca performar transparência ou controle absoluto, mas que se afirma no fluxo, no desvio, no risco e na potência da relação?
Interessa-me mobilizar uma escuta sensível às dinâmicas internas do corpo — suas resistências, derivas e colapsos —


A pesquisa se apoia no conceito de opacidade, desenvolvido por Glissant, que afirma o direito de existir sem ser totalmente decifrado, traduzido ou reduzido. Essa noção se desdobra em uma poética do movimento que acolhe o não-saber e as zonas de indiscernibilidade como potências criativas. Assim, a opacidade não é algo que se encerra em si, mas uma forma de outridade.


...do abismo e do mar, outras paisagens fartas..